A primeira mesa redonda do IV Encontro Brasileiro de Educomunicação (realizada no dia 25 de outubro de 2012)
foi marcada por excelentes diálogos sobre as tecnologias da informação e
o papel da educomunicação nos espaços educativos e também no debate
sobre cultura. Intitulada “Educomunicação: Protagonismos sem
Fronteiras”, a mesa contou com a presença do professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Muniz Sodré, o diretor de projetos
educacionais da Fundação Padre Anchieta, Fernando José Almeida, a
presidente do Comitê Gestor da Internet no Brasil, Tatiana Jereissati e
do professor do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São
Paulo, Ismar Soares. A professora da licenciatura em Educomunicação da
ECA/USP, Maria Immacolata Lopes, foi a mediadora da mesa.
Muniz Sodré aproveitou o tema para questionar o que de fato é a
cultura. “Nós estamos cansados de ouvir falar da cultura como uma
palavra sócio-semântica, uma palavra onde parece que vale tudo, mas a
questão é muito mais ampla”, disse. Segundo o professor, a cultura é
muito diversa e a as tecnologias da informação aparecem para expressar
essa diversidade. “A informatização revalorizou a forma de um saber vivo
no trânsito cotidiano.”
Sodré, numa tentativa de contextualizar e definir Educação e Cultura,
afirmou que “Educação não se confunde com ensino, nem com instrução
pura e simples”. Para o professor da universidade carioca, a sociedade
atual não é educativa, mas sim instrucional, valorizando conteúdos em
vez de priorizar cognições afetivas para a construção da autonomia dos
indivíduos. Muniz Sodré destacou o papel da informática e da Internet na
valorização da cultura cotidiana e do saber não formal, o saber da
experiência. Ao mesmo tempo, defende o conservadorismo da educação. ”A
conservação é um valor de preservação da ética, da crise. A internet
entra como um fator de ebulição e agitação de um discurso de conservação
social”, afirmou.
Sobre as redes sociais, não acredita que a simples existência desses
espaços garante pluralidade e democracia. “É preciso redefinir a palavra
voz. Há um outro sentido para voz. Ter voz é a capacidade que se tem de
falar criticamente, criativamente e de um modo autônomo. Nada me
garante, por exemplo, que o palavrório das redes sociais seja uma voz de
autonomia dos jovens. Isso é simplesmente livre expressão. Falar
livremente (apenas) não configura democracia”, afirmou o Muniz Sodré nos
bastidores, à nossa equipe.
O professor, muito aplaudido pela plateia de 300 participantes,
finalizou a sua fala dizendo que “a Educomunicação é um pretexto
histórico para reformular e estruturar a noção central de cultura, que é
o que as tecnologias da informação trazem: a diversidade, não só de
tecnologias, mas a diversidade territorial e a diversidade simbólica.
Não é só o tecno, é a logia, que significa um novo tipo de lógica.”
Após a fala de Sodré foi a vez do professor Fernando José Almeida,
diretor de projetos educacionais da Fundação Padre Anchieta,
compartilhar a experiência de sua instituição com a TV Cultura. Almeida
falou sobre a busca por conteúdos que contemplem a educação de forma
democrática e como as tecnologias podem atravessar algumas bases do
sistema de educação do Brasil. Ele lembrou que a tecnologia também é
humana e como ela é possível caminhar junto com a aprendizagem.
“O que o computador faz para ajudar um aluno a trabalhar? Enquanto
ele (o aluno) não souber o que um computador faz, ele não fará. Os
desafios que se colocam para as secretarias de educação e para o MEC é
definir qual a real contribuição das tecnologias para a aprendizagem. Eu
diria, como o professor Muniz Sodré falou, que é para criar seres
críticos, cidadãos participantes, pessoas que compreendam e interpretem a
realidade”, disse em entrevista, nos bastidores, à nossa reportagem.
Na sequência, Tatiana Jereissati apresentou a pesquisa TC Kids
Online, criada na Inglaterra e adaptada para a realidade brasileira. A
pesquisa, feita em 2012, mostrou alguns hábitos de crianças e
adolescentes e suas famílias na internet. Por exemplo, 82% das crianças e
adolescentes brasileiros usam a internet para fazer trabalhos escolares
e quase metade tem a escola como principal local de acesso à internet.
“Isso mostra que a escola pode ser a porta de entrada da criança e do
adolescente na internet”, disse Tatiana.
O professor Ismar Soares finalizou a mesa comparando as três
apresentações anteriores. Ele disse que todas mostraram a importância da
educomunicação e das tecnologias na teoria e na prática. O professor
destacou a importância de estudar educomunicação para ampliar as
pesquisas da área. “A pesquisa é importante para sabermos quem é quem”,
disse. Segundo Ismar Soares, “a educomunicação não é necessariamente uma
didática, mas uma metodologia em busca de novos paradigmas. Por isso
mesmo, ela não é fechada, está sempre aberta para novas formas de criar.
Na educomunicação temos condições de dialogar”.
Disponível em: http://www.agenciajovem.org/wp/?p=12193